1 de abr. de 2014

Será que a cesárea é a única opção?

O Brasil é recordista mundial em número de cesarianas. Enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que 15% dos partos sejam feitos desta forma, na rede médica particular brasileira este número chega a 84%, segundo dado da Agência Nacional de Saúde. 


Nem sempre os diagnósticos significam que a única saída é a cesárea. Os argumentos listados abaixo são comumente ouvidos pelas gestantes, mas nem sempre significam que à mãe só resta a opção da cesárea. O ideal é que, em cada caso abaixo, o médico seja claro em relação às porcentagens reais de risco e ofereça informações completas para a escolha da mãe.

- O bebê está com o cordão enrolado
A ocorrência é muito comum e acomete até 40% dos partos, mas esse diagnóstico não é determinante, porque ele se mexe dentro da barriga o tempo todo. A ultrassonografia pode mostrar uma circular que irá se desfazer e o bebê nascer sem circular – ou, ao contrário, o bebê pode não apresentar circular no ultrassom e nascer com circular. “O bebê não ‘respira’ como nós, ele está em um meio líquido, seu pulmão é fechado e sua oxigenação é através do cordão umbilical. Ao nascer e observar a presença de circular, apenas retira-se, como um ‘cachecol’, pela cabeça ou corpinho”, explica a obstetra Mariana Simões.

- Você está com a pressão alta ou está com a pressão baixa
A pressão baixa é comum na gravidez, não requer nenhuma medida drástica. Já a pressão alta pode levar a uma interrupção da gestação – não necessariamente cirúrgica. “Isso pode ser feito através da indução de um parto normal”, explica a Andrea Campos. Os obstetras podem se utilizar de hormônios ou procedimentos mecânicos, como o rompimento artificial da bolsa ou exames de toque vigorosos.

- O bebê não está encaixado
O posicionamento correto do bebê pode acontecer só durante o trabalho de parto. São as contrações efetivas que fazem com que ele “desça” e se encaixe.

- O bebê passou do tempo
“Bebês não ‘passam do tempo’, apenas têm um tempo diferente de maturidade. Segundo estudos mais recentes, após 41 semanas e 1 dia deve haver acompanhamento, mas não interrupção com cesárea”, diz Mariana. De qualquer forma, mesmo nestes casos a solução não é só a cesárea – também dá para acelerar ou induzir o trabalho de parto.

- Os batimentos do bebê estão acelerados
Bebês dormem e se movimentam. Como nós, se dormimos ou estamos em repouso, há uma queda do batimento. Se nos agitamos, os batimentos se aceleram. Agora, se há uma aceleração persistente e foram excluídas causas fisiológicas – como taquicardia ou febre da mãe – pode ser indício de sofrimento fetal. “Neste caso, a cesariana pode ser necessária”, alerta Andrea.

- A cabeça do bebê é muito grande
A desproporção céfalo-pélvica é um motivo real para escolher pela cesariana, mas o problema está no diagnóstico. O problema acontece quando a cabeça do bebê não consegue passar pela parte mais estreita da bacia da mãe, mesmo quando a dilatação do colo uterino já é total. Por isso, é recomendável que mesmo quem opta pelo parto normal tenha uma estrutura de hospitalar à disposição.

- O bebê é muito grande
A ultrassonografia não é precisa para determinar o peso do bebê. Mesmo assim, bebês com mais de 4 kg ainda podem nascer de parto normal. “Desde que a mãe não tenha uma diabetes descompensada, isso não é problema. O bebê geralmente tem o tamanho que passaria pela pelve”, conta Andrea.

- Você já fez uma cesárea anteriormente
Muitas mulheres ficam surpresas e não acreditam que, mesmo depois de terem passado por uma cesárea, podem ter o segundo filho de parto normal . “Com até duas cesáreas anteriores, os riscos reais em trabalho de parto natural (sem indução farmacológica) é de cerca de 0,5%. Já com três cesáreas anteriores, pode-se haver até 5% de riscos de ruptura uterina e esse número para a medicina é considerado um valor alto”, descreve Mariana.

- Você não tem dilatação
Antes do trabalho de parto, é normal não haver dilatação. Em geral, o colo só se dilata significativamente durante o processo. O que caracteriza o trabalho de parto são as contrações regulares a cada três minutos, com duração de em média três minutos. Antes disso, não há razão para esperar uma dilatação.

- Você está constipada
“A constipação intestinal não exerce nenhuma influência sobre o parto”, garante Andrea. Nesses casos, complicações da cesárea podem agravar o quadro, já que o intestino pode ficar paralisado por algum tempo.

Quando a cesárea é necessária:

A maioria das justificativas aparecem só durante o trabalho de parto. E mesmo as cesáreas marcadas podem esperar este momento para ter certeza que o bebê está pronto para vir ao mundo. 
Veja alguns motivos que podem levar à cesariana e entenda porque, nestes casos, a intervenção cirúrgica é melhor:

- Estado Fetal Intranquilizador (sofrimento fetal): quando o bebê não está bem e o nascimento precisa ocorrer prontamente.
- Apresentação córmica: quando o bebê está atravessado no momento do trabalho de parto.

- Hemorragias maternas no final da gravidez: podem ocorrer por descolamento da placenta (quando a placenta descola antes de o bebê nascer) ou placenta prévia (quando a placenta recobre o colo do útero). As duas pedem uma cesárea. Mas sangramentos pequenos podem acontecer também pela dilatação do colo do útero e, neste caso, não há necessidade de cirurgia.

- Mãe portadora do HIV: pesquisadores do International HIV Group analisaram diversos estudos e concluíram que as chances de transmissão do vírus da mãe para o bebê diminui em 50% se feita a cesariana programada.

- Apresentação pélvica em primigesta (bebê sentado em mulheres que nunca pariram): o bebê pode nascer sentado, mas nestes casos o risco relativo do parto normal é maior que o da cesárea.

- Herpes genital com lesão ativa: há maior chance de o bebê se infectar durante o parto normal do que na cesariana eletiva.

- Prolapso de cordão: o cordão sai antes do bebê. O problema é que quando o bebê passa pelo canal, quando feito o parto normal, provoca uma pressão no cordão, impedindo a passagem de sangue para a criança.

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